quarta-feira, outubro 15, 2008

Vem aí uma nova era


“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
(...)

Assim falava o génio de Camões. Sempre assim foi, desde que o mundo é mundo. Sempre assim será enquanto a Terra rodar em torno do sol.
As eras sucedem-se umas atrás das outras com o seu inevitável cortejo de transformações.
Estamos a atravessar a longa era dos vampiros. Com as lúgubres capas negras a esvoaçar aos ventos da mudança, cada vez mais grotescos na sua desorientação com o rumo dos acontecimentos que já não conseguem controlar, ainda são os mesmos do poema do José Afonso:

“No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
(...)

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafad
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada”
(...)

Mas uma nova era está a bater-nos à porta. Virá mais cedo de que muitos esperavam. Há prenúncios encorajantes no ar que respiramos, nos ventos que sopram, nos indícios que nos chegam de todo o lado.
Uma era em que o fulgurante progresso tecnológico dos tempos que correm será finalmente posto ao serviço da prosperidade e do bem-estar de toda a humanidade. A tão apregoada globalização, que até agora foi pretexto para concentrar a riqueza nas mãos de uma oligarquia financeira, rapace e sem escrúpulos, só agora irá realmente começar a dar frutos.
Infelizmente, a travessia do deserto, será longa e dolorosa. Mas depois da tempestade, vira a bonança. Quando passar a tormenta que nos flagela, o mundo será melhor. Balizado por valores mais nobres durante tanto tempo atirados para o sótão das velharias sem préstimo, no sinistro reinado do deus-cifrão.
Por que caminhos lá chegaremos, ninguém o sabe ainda. No meio de tanta incerteza, só a certeza do poeta José Régio :

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
(...)

É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!"